quarta-feira, 21 de setembro de 2011

E agora...?

Eu recebi aquela ligação com um nó na garganta. Queria chorar, mas me mantive forte. Não podia passar mais desespero a mãe dela.
Olhei para o relógio e constatei que eram quase dez horas da noite. Não me importei. Coloquei meus tênis, peguei meu bilhete de metrô e sai decidido de casa.
Não conseguia acreditar que era isso o que tinha acontecido. Ela sumiu por um mês. Não atendia telefone, não respondia meus e-mails e nem abria a porta de casa. Eu achei que ela estava brava comigo. Nunca poderia imaginar o verdadeiro motivo. Não poderia aceitar o verdadeiro motivo.
Cheguei em frente a casa dela, respirei fundo e toquei a campainha. A mãe dela atendeu.
- Que bom que você veio hoje. Ela não esperaria até amanhã.
Eu apenas cumprimentei a mãe dela e entrei na casa com o coração na mão. Senti um aperto sufocante quando a olhei.
Minha melhor amiga. Aquela linda garota que eu conhecia desde os cinco anos de idade. Agora estava em uma cama, ligada a um respirador e com a aparência envelhecida em dez anos.
Engoli as lágrimas. A mãe dela fechou a porta a fim de nos deixar a sós. Eu não sabia o que falar.
Finalmente ela abriu a boca e disse com a voz fraca:
- Caio...
Eu não aguentei e desatei a falar:
- O que aconteceu com você? Por que não me avisou? Eu poderia ter te dado apoio, te ajudado a superar!
- Você seria a primeira pessoa para quem eu contaria. Aliás é realmente a primeira!
- E por que você me contou só agora? Afinal, o que aconteceu com você?
- Eu sai com aquele cara que você tinha me alertado a não me aproximar. Ele bebeu muito e saiu em disparada com o carro. Eu também tinha bebido um pouco e não liguei. Ele não viu o farol vermelho e bateu em outro carro. Ele e o primo que estavam nos bancos da frente morreram na hora. Só eu sobrevivi. E não sei o por quê.
Eu não sabia o que falar. Olhei para ela e tentei assimilar aquelas informações. Por fim ela cortou o silêncio:
- Fiquei internada durante um mês. Coloquei vários pinos, mas mesmo assim não posso mais andar. Também tive a capacidade respiratória reduzida, por isso o respirador.
- Tudo isso pois você fez algo que não deveria ter feito. - eu disse
- Eu sei, Caio. Não preciso disso agora. Só quero o seu apoio. - ela disse chorando.
- Desculpe. É que te ver assim... Mexeu com as minhas emoções.
- Eu não sei o que eu faço, Caio... Se eu tivesse te escutado como eu sempre fiz durante a minha vida... Mais não, eu estava apaixonada e não dei ouvidos a ninguém e nem à razão. Cometi o maior erro da minha vida!
- Laura, preste atenção: A vida é traiçoeira. Ela está sempre pronta para te derrubar. Mas há um porém: A gente sempre acha que os maus momentos são negativos. Não é bem assim. Eles foram feitos para aprendermos com nossos próprios erros. Lembra quando você tinha dez anos e caiu do muro mesmo que sua mãe tenha falado mil vezes para você não subir?
Ela concordou com a cabeça.
- Então, depois do joelho ralado e do dente quebrado, quantas vezes mais você subiu no muro?
- Nenhuma.
- Viu? Você mesma achou a resposta.
Ela franziu com dificuldade o rosto.
- A gente aprende com os próprios erros.
- Mas eu preferia um dente quebrado do que viver o resto da minha vida presa a esta cama. Será justo o que Deus fez comigo?
- Não culpe Deus. Ele escreveu seu destino e você não tem como mudar isso. E sempre tenha em mente que ele não lhe dá mais tijolos do que você pode carregar. Se fez isso é porque sabe que você pode aguentar. Agradeça a ele todos os dias por estar viva. Você foi a única que escapou. Ainda não cumpriu sua missão no mundo. Cabe somente a você descobrir isso.
Ela chorou ainda mais. Por fim, falou:
- Mas, Caio...e agora? Minha vida acabou!
- Acabou, Laura? Pare e pense... Antes você apenas existia. A sua vida começa a partir de agora...
Ela sorriu com dificuldade e então, dormiu, e eu pude ir tranquilo para casa.