terça-feira, 25 de outubro de 2011

Juntos, de qualquer jeito, de qualquer forma.

Durante meus dezenove anos, sempre ouvia as pessoas dizerem para aproveitar cada momento, pois a vida, às vezes pregava peças. Eu nunca fui uma adolescente qualquer. Não gostava de sair de casa e ficar com meus poucos amigos, aproveitando cada segundo, ao contrário de todo mundo. Hoje, como me arrependo de não ter feito isso. Talvez, se tivesse aprendido a me virar, a passar pelos obstáculos da vida, conseguisse entender por qual motivo o André fez isso comigo. Minha ingenuidade, mantida até hoje, me fez e faz não entender os reais motivos para que as pessoas tomem determinadas atitudes.
Há cinco anos atrás, eu tinha uma vida perfeita. Podia não ser perfeita para muitas pessoas, mas se encaixava exatamente no meu conceito de felicidade. Eu tinha uma casa confortável e uma família maravilhosa. Tinha um melhor amigo pelo qual mataria e morreria sem pensar duas vezes. Não precisava de mais nada para me isolar em meu mundo. Tudo o que eu queria encaixava-se nele, sem dificuldades. Hoje a vida me ensinou que isso foi pura ingenuidade.
Sempre tive uma saúde perfeita, achava eu, até o dia em que acordei com um peso nos olhos. Fui ao pronto socorro achando que tinha sido mais uma vítima do surto de conjuntivite daquele verão. Mas  me encaminharam para um médico, que me olhou com estranheza e logo me mandou para outro, depois para outro, para outro, para outro, até que me dei conta que estava na sala de espera de um médico oncologista. Em questão de um mês meu mundo desabou. Precisava urgente de um transplante.
Junto do maior baque da minha vida, eu perdi o apoio de meus (eu achava que eram) amigos e minha família passou a me tratar como o próximo espírito a passar para a outra dimensão.
Conseguiria superar tudo se tivesse o apoio de quem eu mais amo neste mundo, o André. Meu melhor amigo desde o jardim de infância. Aquele do qual já havia falado. O irmão escolhido pelo coração e não pelo destino.
Pois bem, ele sumiu durante o mês em que rodei por todos os oftamologistas de minha cidade e procurei por um hospital que me operasse com urgência. Meu coração ficou partido. Nada de meu irmão por perto, segurando meu muro, para que não caisse.
Confesso que entrei na sala de cirurgia naquela manhã fria de segunda feira sem saber realmente se queria retornar. Entre a vida e o amor, eu escolhia com facilidade a segunda opção. Se não tivesse isso, não queria mais nada.
Hoje, lembro somente do médico aplicando a anestesia e de meus olhos se fechando rapidamente. A partir dai, só escuridão.
(CONTINUA)

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