quinta-feira, 21 de junho de 2012

Anjo ou ilusão?

                                              
Eu acordei aquela manhã com um estranho bom humor. Fazia tempo que eu não levantava da cama sorrindo. Talvez tivesse sido aquele sonho com o rapaz de voz doce que eu tive. Tão gostoso,
reconfortante...
Era uma pena que sorriso sumiu tão rápido do meu rosto quando olhei minha lista de tarefas do dia. A primeira coisa que fiz foi olhar a data: 20 de maio. Fazia exatamente um ano que eu havia me mudado para o Brasil.Mas precisamente de Londres para o Rio de janeiro.
Podia parecer uma aventura alucinante mudar para um país tão diferente do meu e começar uma vida nova. Mas, para mim, isso trazia um medo sem tamanho. Eu não queria deixar minha amada cidade para trás. Eu detestava calor e não sabia uma palavra de português. Estava totalmente fora da minha zona de conforto. Mas, infelizmente, eu, com meus dezenove anos, ainda não havia construído nada na vida. Não tinha condições de ficar na Inglaterra. Tive que vir para o Rio junto com os meus pais e aceitar esta mudança que acabava comigo aos poucos. E o pior é que só eu sabia disso. Ninguém parecia acreditar e levar a sério o que eu sentia.
Então aquele vinte de maio eu resolvi que seria diferente. Não adiantava ficar chorando em casa. As lágrimas que eu derramaria não me trariam o Big Ben ou a rainha Elisabeth de volta. Eu teria que fazer algo diferente para esquecer aquele aniversário amargo. Pensei muito e decidi esquecer o meu medo e realizar um desejo guardado desde a primeira semana no Brasil: pular de parapente. E não queria nenhum instrutor perto de mim. Eu iria sozinha. Se me acontecesse algo, tudo bem. Eu não me importava.
E, desta vez, o destino parecia finalmente estar do meu lado, pois, o antigo morador da minha casa havia deixado um equipamento no sotão. E era aquele que iria usar. A adrenalina subia como fogo pelo meu corpo.
Arrastei o equipamento até o carro e coloquei no bagageiro. Peguei a chave escondida do meu pai e as aulas de direção vieram todas na minha mente como em um filme, afinal eu havia acabado de aprender a dirigir. Mas, novamente, eu não estava ligando.
Dirigi em direção a São Conrado o mais rápido que minha ansiedade permitiu. Pareceu uma eternidade, mas eu cheguei, estacionei o carro, fechei os olhos e comecei a pensar na loucura que estava prestes a cometer.
Meus olhos fechados começaram a perceber uma explosão de cores em minha mente. Era muito estranho. Preto, azul,  verde, passando tudo muito rápido como se eu estivesse correndo. De repente tons de cinza se aproximando,  preto novamente e dor. Muita dor. Depois, aos poucos, o preto indo embora e dando espaço a um jogo de luzes vermelhas e muito barulho. E do nada, as luzes vermelhas foram tapadas pela visão de asas ligadas a um corpo humano. E eu abri os olhos.
Estava dentro do carro. E tinha dormido.
"Que droga", pensei. "Estou perdendo tempo e daqui a pouco alguém virá me procurar."
Pulei para fora do carro rapidamente, peguei o equipamento, esqueci o sonho (ou será delírio?) que tinha acabado de ter e comecei a me preparar.
Aqueles vídeos na internet sobre voos de parapente ajudaram muito a montar tudo rapidamente. E, cerca de 40 minutos depois, lá estava eu, pronta para pular de mais de quinhentos metros de altura.
O Rio de Janeiro parecia muito mais bonito e atraente lá de cima, Os braços do Cristo pareciam abraçar a minha loucura.  Não pensei duas vezes. Corri em direção ao abismo e... pulei.
Ah, que delícia o vento batendo no meu rosto. A adrenalina aumentando. O parapente aberto acima de mim ofuscando o céu, dando-me cobertura para aproveitar e ver o medo e a tristeza indo embora. Simplismente maravilhoso. A cidade, acabando de acordar, passando lá embaixo, parecendo formigas. Meu medo estava do tamanho delas e a coragem, maior que o Cristo.
O céu azul, passando muito rápido por mim, pareceu-me familiar. Quando passei próximo a vegetação do morro, borrões de verde começaram a invadir meus olhos e a familiaridade aumentou. Verde, verde, verde, depois cinza, se aproximando demais de mim. Algo começou a dar errado. Perto de mais, perto de maaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiissssssss. Dor. Preto.

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   Abri os olhos sem saber o que estava acontecendo. Luzes vermelhas piscavam perto de mim, o que me    incomodou muito. O barulho que elas faziam, pareciam com uma....sirene. Mas o que poderia ser aquilo?
E ai senti uma dor incrivelmente forte que não sabia de onde havia vindo. Meus olhos estavam embaçados mas eu consegui perceber que havia muita gente em volta de mim e um cheiro de brisa do mar, areia, misturados com o aroma salgado de sangue.
Das poucas partes que conseguia sentir de meu corpo, consegui identificar meu braço, e, mesmo explodindo de dor, tateei o chão e senti a areia. Ao lado, o parapente. Ou o que restou dele.
Ainda zonza, tentei levantar a mão e algo me impediu.
Tentei focar meus olhos e percebi que uma figura humana é que havia feito aquilo. Senti uma mão encostada em meu ombro e uma voz doce e suave dizendo.
- Você está bem? Qual é o seu nome?
E ai, meus olhos começaram a fechar de novo, mas antes do preto total, vi algo parecido com as asas de um anjo...
Sonho ou realidade? Anjo ou homem?
(E AI, LEITOR(A), CONTINUA?)
                                         


                                                 




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